Lamentamos
o falecimento de um homem fundamental para a cultura de Goiana, José Torres, poeta,
compositor, jornalista e artista plástico que tanto contribuiu para projetar o
nome da cidade no meio cultural. José Torres Ferrreira nasceu em Goiana em
1954. Em 1987 lançou o seu primeiro livro Verso Avesso (Independente). Durante
a Fliporto Olinda, em 2011, lançou Ofício do Verso (Edições Bagaço).
Lembro
bem dos nossos contatos, através da Ritmo, com o Jornal A Província, de Goiana, periódico que Zé Torres tocava com grande
empenho e obstinação no desafio constante que é empreender um projeto de
comunicação na Mata Norte de Pernambuco.
Recentemente,
em razão do projeto Silêncio Interrompido
– Goiana Revisitada, fizemos novo contato com Zé Torres. Ele - juntamente
com mais 15 poetas da Mata Norte - mereceu destaque nas publicações do livro e
site do projeto, lançados em agosto de 2012.
Abaixo,
um pouco da entrevista que fizemos com José Torres, na ocasião do lançamento do
livro e site do Silêncio Interrompido. Nossos sentimentos aos amigos e
familiares desse tão importante nome da cultura de Goiana.
Nice Lima - Como
foi o início de tudo, do seu envolvimento com a literatura, as artes?
José Torres - Das expressões artísticas, foi a música a que primeiro me seduziu.
Ainda bem garoto, era conduzido por meu pai, Ilton Ferreira, aos ensaios da
Banda Saboeira. Íamos, também, a ensaios da Curica; não perdíamos as retretas
(minha mãe sempre foi uma entusiasta das bandas de música da nossa Goiana, em
especial, a Saboeira, que, durante o Carnaval, invadia nossa casa, me sacudindo
da cama). A música entrou cedo na minha vida. Da música à letra, o texto
metrificado, rimado, rico em metáforas e imagens, esse universo me levou à
poesia, que adotei como uma espécie de
diário, onde depositei, por toda a vida, minhas mais profundas e contundentes
impressões.
N.L. - Qual é a
sua vertente artística? Segue alguma específica?
J.T. - O que
escrevo é livre, segue o pulsar do pulso.
NL - Como
você busca inspiração para a sua arte, trabalho?
J.T. Observando, abrindo espaços para mergulhos,
interiorizando-me.
N.L. Como se
deram os primeiros contatos com os poetas que participam do Movimento Silêncio
Interrompido?
J.T. - Lembro
dos finais de tardes de domingos na Praça Duque de Caxias, em Goiana, quando,
aos poucos, foram se chegando, com seus poemas impressos em folhas, que foram
lidas, deglutidas e reproduziram-se num silêncio provocador, que ocupa espaços
e interrompe a mediocridade.
N.L. Quais
são os desafios de fomentar o gosto por essas expressões em cidades onde o
acesso à leitura ainda é incipiente e o interesse, principalmente dos jovens,
tem sido por uma cultura digital?
J.T. - Os
"desafios" são praticamente os mesmos que se tem ao fazer arte
"de verdade", onde quer que seja, pois, há muito, o mundo tornou-se
uma aldeia.
N.L. Qual é
a importância de você, como artista, participar de um projeto como o Silêncio
Interrompido?
J.T. - É
extremamente gratificante estar entre um seleto time de jovens poetas, ter meu
trabalho reconhecido por essa geração. Me dá vontade de escrever mais, de
publicar mais, me dar mais.
Goiana (Zé Torres) – poema do
Livro Goiana Revisitada
Do
alto de Maravilhas
contemplativo
o olhar plaina
sobre
tapete verde de cana
a
deparar--‐se com alvas torres
campanários
de seculares igrejas
frondosas
copas das fruteiras
que
ornam sítios e quintais
no
sentido oposto
Santa
Tereza observa
o
outro lado do rosto
onde
a cana também esparrama--‐se
altos
antigos telhados
dos
sobrados avarandados
palmeiras
e coqueirais
no
coração do verde vale
entrecortada
por rios e mangues
expande--‐se
próspera a vida
na
pacata velha vila
a
espreitar ao longe
o
fumegar dos altos bueiros
de Santa Tereza e Maravilhas.