domingo, 24 de fevereiro de 2013

Goiana perde Zé Torres





Lamentamos o falecimento de um homem fundamental para a cultura de Goiana, José Torres, poeta, compositor, jornalista e artista plástico que tanto contribuiu para projetar o nome da cidade no meio cultural. José Torres Ferrreira nasceu em Goiana em 1954. Em 1987 lançou o seu primeiro livro Verso Avesso (Independente). Durante a Fliporto Olinda, em 2011, lançou Ofício do Verso (Edições Bagaço). 

Lembro bem dos nossos contatos, através da Ritmo, com o Jornal A Província, de Goiana, periódico que Zé Torres tocava com grande empenho e obstinação no desafio constante que é empreender um projeto de comunicação na Mata Norte de Pernambuco. 

Recentemente, em razão do projeto Silêncio Interrompido – Goiana Revisitada, fizemos novo contato com Zé Torres. Ele - juntamente com mais 15 poetas da Mata Norte - mereceu destaque nas publicações do livro e site do projeto, lançados em agosto de 2012.
Abaixo, um pouco da entrevista que fizemos com José Torres, na ocasião do lançamento do livro e site do Silêncio Interrompido. Nossos sentimentos aos amigos e familiares desse tão importante nome da cultura de Goiana.

Nice Lima - Como foi o início de tudo, do seu envolvimento com a literatura, as artes?
José Torres - Das expressões artísticas, foi a música a que primeiro me seduziu. Ainda bem garoto, era conduzido por meu pai, Ilton Ferreira, aos ensaios da Banda Saboeira. Íamos, também, a ensaios da Curica; não perdíamos as retretas (minha mãe sempre foi uma entusiasta das bandas de música da nossa Goiana, em especial, a Saboeira, que, durante o Carnaval, invadia nossa casa, me sacudindo da cama). A música entrou cedo na minha vida. Da música à letra, o texto metrificado, rimado, rico em metáforas e imagens, esse universo me levou à poesia, que adotei como  uma espécie de diário, onde depositei, por toda a vida, minhas mais profundas e contundentes impressões.
N.L. - Qual é a sua vertente artística? Segue alguma específica?
J.T. - O que escrevo é livre, segue o pulsar do pulso.
NL - Como você busca inspiração para a sua arte, trabalho?
J.T. Observando, abrindo espaços para mergulhos, interiorizando-me.
N.L. Como se deram os primeiros contatos com os poetas que participam do Movimento Silêncio Interrompido?
J.T. - Lembro dos finais de tardes de domingos na Praça Duque de Caxias, em Goiana, quando, aos poucos, foram se chegando, com seus poemas impressos em folhas, que foram lidas, deglutidas e reproduziram-se num silêncio provocador, que ocupa espaços e interrompe a mediocridade.
N.L. Quais são os desafios de fomentar o gosto por essas expressões em cidades onde o acesso à leitura ainda é incipiente e o interesse, principalmente dos jovens, tem sido por uma cultura digital?
J.T. - Os "desafios" são praticamente os mesmos que se tem ao fazer arte "de verdade", onde quer que seja, pois, há muito, o mundo tornou-se uma aldeia.
N.L. Qual é a importância de você, como artista, participar de um projeto como o Silêncio Interrompido?
J.T. - É extremamente gratificante estar entre um seleto time de jovens poetas, ter meu trabalho reconhecido por essa geração. Me dá vontade de escrever mais, de publicar mais, me dar mais.


Goiana (Zé Torres) – poema do Livro Goiana Revisitada

Do alto de Maravilhas
contemplativo o olhar plaina
sobre tapete verde de cana
a deparar--‐se com alvas torres
campanários de seculares igrejas
frondosas copas das fruteiras
que ornam sítios e quintais
no sentido oposto
Santa Tereza observa
o outro lado do rosto
onde a cana também esparrama--‐se
altos antigos telhados
dos sobrados avarandados
palmeiras e coqueirais
no coração do verde vale
entrecortada por rios e mangues
expande--‐se próspera a vida
na pacata velha vila
a espreitar ao longe
o fumegar dos altos bueiros
de Santa Tereza e Maravilhas.


Facilitando contatos,divulgando ideias culturais.

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