sexta-feira, 2 de novembro de 2012

O cinema na Mata Norte e na fala dos personagens. Aliança: Sebastião Correia de Melo



Depoimentos de quem vive e viveu o cinema no interior de Pernambuco

AMostra Canavial de Cinema destaca os personagens da Mata Norte e as lembranças deles em relação ao cinema. Alguns encontraram um amor, outros conheceram lugares e culturas assistindo aos filmes nos cinemas do interior, outros, mesmo que de maneira improvisada nas salas simples de projeção, puderam experimentar as inesquecíveis sensações de mistério, aventura, paixão, proporcionadas pelas histórias contadas nas grandes telas.

            Essas pessoas recuperam as lembranças da época em que o cinema na Mata Norte reunia jovens, adultos, amigos, famílias e ressuscitam a importância de poder voltar a ter acesso à sétima arte na Mata Norte de Pernambuco.

                                Foto: Ernesto Rodrigues


Um filme e muitas lembranças



            O sapateiro Sebastião Correia de Melo (80) tem muita história sobre a cultura de Aliança para contar. mais de 50 anos tem intensa devoção à bíblia e se diz ferrenho estudioso dela, tanto que anda afastado das funções que exercia como radialista na antiga difusora, Amplificadora Aliança; e de projetista no Cine Irani. Contudo, ainda é possível resgatar, numa boa conversa, as lembranças de Seu Sebastião sobre o cinema que se fazia em Aliança nas décadas de 1950 e 1960. Entre tantas histórias, destaca-se a paixão dele pelo filme A Glória de um Covarde (1951, Dir. John Huston), tão marcante para Seu Sebastião que ele guarda 48 anos um pedaço da película do filme. No Cine São José ele não chegou a trabalhar, mas lembra do projetista que ia de Timbaúba até Aliança e Upatininga (distrito de Aliança) para as projeções.


No São José, o rapaz [o projetista] vinha de Timbaúba, trazia a máquina no carro, botava o cartaz na rua e de noite passava a projeção. O cinema você sabe: era uma máquina com um rolo de fita pra ser projetada, e depois o [filme] projetado, um [rolo] desenrolando para projetar e o outro rolo enrolando. A gente bota a fita numa parte superior da máquina e um carretel desocupado na parte inferior. E passa pelo obturador, a gente deixa duas folgas: uma superior, e outra inferior, pra não forçar a fita. E a lâmpada eram dois carvões, quando um encostava no outro dava luz.


Tem filmes que eu lembro feito O Gordo e o Magro, A Rainha do Mar, que era a história de uma moça que dava um pulo e depois dava um maior...


O Cine Irani era da Prefeitura, quem tomava conta era o fiscal geral, João de Xaninha. A máquina era uma máquina antiga, de 35mm, depois uma rapaz de Timbaúba botou um cinema aqui nesse edifício Dom Vital, o Cine São José. tinha uma máquina de 16mm, máquina pequena portátil, agora o som era melhor do que o da outra [do Cine Irani].


Eu fiquei consertando as máquinas do Cine Irani quando se quebrava e às vezes vinha um filme bom e eu trazia e passava aqui no meu terraço. Eu botava a máquina aqui no bancão e projetava na parede e fechava o trânsito. Eu tinha um vizinho que dizia: ‘Ô, Sebastião, quando tu [sic] pregando o evangelho não aparece nenhuma pessoa, mas quando [sic] passando filme, né? Fica cheio(risos). Eu passei aqui Sansão, Rainha do Mar, A Glória de um Covarde... ” 


Serviço:

Mostra Canavial de Cinema
Quando: de 15 de novembro a 2 de dezembro
Local: Praças e espaços públicos das cidades das cidades de Vicência, Aliança, Condado, Goiana, Tracunhaém, Carpina e Nazaré da Mata
Hora: Exibições cinematográficas com início às 19h30;
Quanto: Aberto ao público
Informações: www.mostracanavial.com.br
 

Facilitando contatos,divulgando ideias culturais.

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