domingo, 4 de novembro de 2012

O cinema na Mata Norte e na fala dos personagens. Goiana: José Francisco Belasco (Zinho)





Depoimentos de quem vive e viveu o cinema no interior de Pernambuco


            AMostra Canavial de Cinema destaca os personagens da Mata Norte e as lembranças deles em relação ao cinema. Alguns encontraram um amor, outros conheceram lugares e culturas assistindo aos filmes nos cinemas do interior, outros, mesmo que de maneira improvisada nas salas simples de projeção, puderam experimentar as inesquecíveis sensações de mistério, aventura, paixão, proporcionadas pelas histórias contadas nas grandes telas.

Cinema
como uma experiência do imaginário

                               Foto: Ernesto Rodrigues
 
José Francisco Belasco (42), mais conhecido com Zinho, é um engajado produtor cultural de Goiana que pode falar com bastante propriedade sobre a cena cultural da cidade. Com fortes lembranças sobre cinema em Goiana, ele conta como era a sua relação como espectador e admirador do cinema, uma linguagem que sempre o marcou muito, até mesmo nas brincadeiras de criança. Além de relembrar a magia do cinema que marcou a infância e juventude, Zinho questiona as atuais políticas públicas para o audiovisual e defende um investimento maior em circulação, o que contribuiria para um incentivo maior à formação de plateia.



Cinema para mim é uma experiência do meu imaginário. Ele sempre está relacionado às minhas primeiras lembranças de luz e escuro. Cinema sempre está muito ligado à minha capacidade de imaginação.


A lembrança mais antiga que eu tenho de cinema é do Cinema Urubatã, que, infelizmente, como a maioria dos cinemas do interior, foi vendido, (muitos cinemas do interior foram vendidos ou para supermercados ou para igrejas). Era um cinema lindo, tinha um primeiro e um segundo andar, aconteciam shows lá. A gente ia, pagava e assistia filmes de Hollywood, ou até de cinema nacional (Os Trapalhões), tinha também filme de Bruce Lee...”



Essa relação com o Cinema Urubatã era muito forte porque era ligada às primeiras experiências com namoradas, a gente pegava a namorada, levava pra assistir aos filmes, ou quando era Os Trapalhões era muita gente no cinema, lotava o primeiro e o segundo andar.”


O Urubatã me lembrava muito o São Luiz [cinema do Recife]. Ele tinha quase a mesma arquitetura do São Luiz. Nós tínhamos dois cinemas na cidade, o Urubatã e o Dacar  (o Rex). O Dacar (Rex) era o cinema mais do proletariado, das pessoas que não podiam pagar muito. E o Urubatã era mais da elite, os melhores filmes passavam lá, a fita não torava tanto, tinha um declive legal.


Hoje nós temos cinema com tanta tecnologia, mas eu sinto que o nosso imaginário ficou muito pobre. Parece que quanto mais tecnologia, mais adormece o nosso imaginário. O que é que eu fazia quando era criança: a gente pegava os papéis de peixe, lavava, cortava uma tirinha, como eu mexia com desenho, eu desenhava naquele papel transparente, pegava caixa de sapato, quando não tinha dinheiro pra comprar luzes pequenininhas, a gente colocava uma vela, cortava um quadrado na caixa de sapato e projetava, e tinha o nosso cinema em casa, a gente cobrava, os meninos iam assistir em  casa.


Muitas pessoas se educaram com o cinema. Foi a partir dali que a gente começou a ver outros mundos. O cinema ele traz isso para você, mesmo que seja um único mundo, mas é um mundo diferente do seu e você consegue viajar nisso.


“A gente tem o Polythema [cinema], a questão é que a população ainda não percebeu que pode se apropriar dele, ou não fez pressão necessária para que esse espaço físico possa ser apropriado. Quando eu falo população, eu falo consumidores de cultura e setor cultural também, colocando também a nossa responsabilidade nesse processo.”

“O que eu sinto é que as políticas públicas voltadas para o audiovisual ainda não levam em conta a população. Hoje, grande parte dos filmes feitos com dinheiro público circula apenas dentro dos festivais. A gente ainda é muito carente de políticas públicas para a circulação”.


Serviço:
Mostra Canavial de Cinema
Quando: de 15 de novembro a 2 de dezembro
Local: Praças e espaços públicos das cidades das cidades de Vicência, Aliança, Condado, Goiana, Tracunhaém, Carpina e Nazaré da Mata
Hora: Exibições cinematográficas com início às 19h30;
Quanto: Aberto ao público
Informações: www.mostracanavial.com.br
 

Facilitando contatos,divulgando ideias culturais.

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